quinta-feira, 1 de julho de 2010

SOBRE O CAMINHO QUE FAZEMOS ATÉ A PÓS-GRADUAÇÃO, POR BRUNA LAZARINI

Da série "Caminhos Percorridos"
Acordei assustada, ele acordou também.
Cedo como era, não tinha “bom dia”, mas uma preocupação quase materna:
- A perna. Tá melhor?
- Cem por cento.

Duvidei. Ele quis levantar junto comigo. Não sei bem por qual motivo, não gostei.
- Fica aí.
- Não, vou sair com você.
- Aproveita que você pode ficar mais um pouco, e fica. Vai umas dez, pode levar o controle do portão.

Ele insistiu. Eu resisti mais um pouco.
- Não. Que coisa, volta pro travesseiro. Descansa, vai...
- Mas eu quero ir. É mais fácil se você abrir o portão pra mim.
- Tá bom. Mas não me atrasa.

Um pouco depois, saí. Antes, abri o portão para ele ir embora, levando minha calça de dormir e a moto amassada.

(A noite anterior envolveu aniversário do moço; não ir pra casa dele “por que é muito longe, preciso acordar bem cedo amanhã”; a vinda dele “porque tava com saudade e queria te trazer esses cookies pra você levar pra aula”; a ligação que me deixou completamente atrapalhada e com medo por ele; procura por uma calça minha para ele usar; a ida ao hospital, onde descobri que é normal a equipe de resgate cortar a calça nova de quem sofre algum acidente e que estava tudo bem; caça por um taxi até a delegacia; e a perda da chave na volta. Estava na própria bolsa – percebemos lá pela quinta vez que jogamos tudo pelo chão.)

Peguei o metrô para a Augusta, onde esperei passar um ônibus. Enquanto pensava em como a rua é diferente às sete e pouco da manhã, mal sabia que as aulas de sábado iam me trazer um sono que praticamente me tirou a Augusta pós-zero hora. Tentava esticar o pescoço para descobrir se àquela hora a lanchonete vizinha do Espaço Unibanco já estava aberta. Só uma precaução para passar o tempo mesmo, já pensando se nos dias em que não desse para tomar café em casa, nem trouxesse os biscoitos, poderia comprar uma coxinha de palmito. Era a minha preferida, e a dele também, embora o ele aceite comer também as de cadáver, como diz a Rita Lee: http://www.rollingstone.com.br/edicoes/15/textos/1394/.

Procurei nos bolsos um post-it onde escrevi o número do ônibus que eu não deveria pegar de jeito nenhum, apesar do letreiro fazer parecer que aquele me serviria também. A informação do papelzinho era presente de um amigo cruspiano que sabia da minha falta de jeito com ônibus e direções. Sabia também como eu me perdia dentro do campus toda vez que ia para lá. Posso dizer que foi quase o que aconteceu: só meia hora depois de sair do ônibus encontrei o prédio principal, que fica em frente ao ponto onde desci.

E fui para a sala descobrir se era mesmo a única publicitária entre uns 40 jornalistas. Não era. Até que o pessoal que vai aos sábados nessa terceira turma do curso se mostrou bem misturado. E em milhões de sentidos além da formação.

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