sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Me ajuda?", por Bárbara Bruna Barbosa

Depois de uma noite mal dormida, acordei cedo no sábado para ir até a Cidade Universitária, em São Paulo, fazer a prova que vai garantir - ou não - minha entrada para uma pós na ECA. Nunca tinha ido para lá de trem e estava tão preocupada em dar mais uma lida nos livros indicados na bibliografia para a redação que fui meio sem pensar, planejar.

Como de costume, estava com pouco dinheiro em casa por causa da mania de só usar cartão. Isso já me deixou em maus lençóis antes, mas desta vez viria a ser pior. Enfim, peguei a bolsa, joguei um clube social dentro dela, a carteira, o celular, um fone de ouvido, os livros, o óculos de sol, o dinheiro da passagem e lá fui eu.

Quando o trem chegou no Brás, onde eu deveria descer, estava tão focada na minha leitura que decidi ir até a estação Vila Madalena para fazer a tal da Ponte Orca. O problema é que não tem Ponte Orca no sábado. E eu nem me liguei disso, óbvio. Quando cheguei na Vila Madalena, passei a catraca e só na rua descobri que não tinha a tal da van. Decidi, então, voltar para a estação Clínicas, onde pegaria um ônibus circular até a USP. E assim o fiz. Nessa, meu dinheiro que estava contado para a passagem - o almoço seria com cartão - foi embora.

Obviamente nem me preocupei, pois tinha certeza que na USP teria banco e era só sacar um pouco mais de money para a volta. A tal Cidade Universitária, como devem saber, é gigantesca e estava um puta calor. Eu estava com uma linda sapatilha prateada da Melissa, ou seja: de plástico. Resultado? Andei que nem loca para achar a sala onde seria a tal prova e ganhei uma bolha no dedinho.

Até aí, OK.

Sai da prova, que era apenas uma dissertação, com a cabeça a mil. Por mais que eu estivesse preparada, prova é sempre prova e deu para dar uma estressada. Nesta hora eu também já estava azul de fome. Para minha alegria, avistei dezenas de bancos e corri para a agência do BB. Comecei a revirar a bolsa e não encontrava o cartão em lugar algum. Não estava na carteira. Nem fiquei muito preocupada, porque logo lembrei que tinha saído na noite anterior sem minha bolsa, apenas com o cartão de crédito dentro da carteira de motorista. Ficou claro: esqueci de voltar a duplinha na minha bolsa e estava ali, em um lugar completamente longe da minha casa, sem um tostão no bolso. Pelo menos eu tinha um clube social.

Tentei manter a calma e achar uma solução. Havia dois caras no banco. Enquanto eu pensava, um foi embora. Comecei a pensar rápido então, antes que o outro também fosse e, num impulso, me aproximei dele com cara de dó e soltei:"desculpa ir te abordando assim, mas acabei de ver que estou sem meu cartão, não sei se perdi ou o quê, e estou sem dinheiro para voltar para casa. Você me ajuda?!"

Ele, meio rindo, meio incrédulo, disse: "Ajudo, espera só eu terminar aqui que te ajudo". Para ser sincera nem reparei se ele tinha cara de maníaco ou algo assim, eu SÓ queria voltar para casa.

Ufa! Estava salva. E não era só isso. Ele terminou o que estava fazendo e perguntou se eu voltaria para a casa de trem. Eu disse que sim, que estava indo para Mogi das Cruzes e ele sorriu surpreso para dizer em seguida: "não acredito. Também estou indo para lá, sou de lá".

E são em momentos como este que eu penso: tem coisas que só acontecem comigo... se eu conto, ninguém acredita!

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